quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Pequeno Príncipe e outros ódios.




O primeiro livro que ganhei foi O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry, tinha sete anos e odiei a leitura. Sabia que aquele presente tinha uma importância para meus pais, pois me presentearam de forma muito cerimoniosa, no entanto, isso não me impediu de odiar uma das maiores obras da Literatura mundial.
Essa primeira impressão me marcou por muito tempo, mas não me traumatizou a ponto de me afastar dos livros; O Pequeno Príncipe foi apenas meu primeiro contato com um plano diferente daquele no qual eu vivia.
Era complicado formar, e ser atingida, por imagens tão reais, mesmo num livro pouco ilustrado; era bizarro conceber aquelas palavras de dentro para fora.
Um planeta sem casas, um lar sem paredes, um menino sem pais, toda a narrativa me chocou profundamente, pois me transportou para um mundo que eu não conhecia uma realidade que eu rejeitava. A essa invasão chamei de literatura.
Não podia ignorar que ao formar as imagens do livro eu me sentia como o personagem mesmo que o odiasse. Aquele cenário surreal também não se dissociava do cenário brasileiro de 1987, transição democrática, inflação, desemprego; a realidade instável daqueles dias preocupava meus pais, e a mim, conseqüentemente.
Vê-se logo porque pude, naquele tempo, odiar um clássico, apesar do “automatismo” e da funcionalidade que nossa sociedade atribui ao ato da leitura; ler nunca é só ler, não se contém em apenas um ato, não se relaciona a apenas uma realidade. Literatura, mais do que um sepulcro estanque de padrões estéticos, de ideais exemplares de sentimentos nobres, de crítica àquilo que somos como sociedade, Literatura é, meramente, construção de sentidos.
Sentidos do autor em relação ao texto, em relação ao mundo e seus acontecimentos, em relação aos diversos objetos contemplados ou a que se destinam um texto. Da catalogação quase científica de A. Bosi, à criticidade de Antônio Cândido, me filio a alguns dizeres de Culler, “...definir o que é Literatura não parece ter muita importância”.
Literatura não é unanimidade, não é regra, nem mesmo harmonia, por isso conceber esse objeto, cercá-lo, é deixar de fora milhões de outras unidades de sentido. Ora, quem possui um cordão forte o suficiente para isolar territórios e influências? Quem pode separar Hemingway de seus sentidos familiares, Mailer de seu realismo sobrenatural, Salinger de todo discurso de Sartre e das cicatrizes recentes de excesso behavorista?
O relativismo conceitual também não explica ou homenageia a Literatura, mas se não é o caminho não pode ser ignorado, pois é movimento, necessário, que mais ou menos aproxima.
Não sei se eu poderia gostar do Pequeno Príncipe, talvez eu ainda o odiasse mesmo que os sentidos que possa construir sejam diferentes. Também não posso apontar para apenas uma concepção da Literatura, pois não domino todos os espaços, todo o tempo, ou todas as mentes. A onipotência é uma capacidade sempre muito afastada das verdades.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

juntinho


Estava meio perdida antes de 15 de janeiro de 2011 aos poucos estaremos de volta....hehe, de volta para contar que o ano virou? depende. A gente costuma pensar que existe apenas um calendário, quando na verdade centenas de outras culturas podem celebrar anos, eras, séculos diferentes. Por isso eu jamais começaria o primeiro post de 2011 dando boas-vindas a um novo ano....você pode me dizer com certeza onde estamos?

Talvez seja a influência de Steven Pinker e de sua Tábula Rasa, talvez seja a total pindaiba econômico-financeira...

Mas pensando em realidades diferentes, não pude deixar de pensar na Língua Alemã, que ao contrário da portuguesa junta palavras com outras como se fossem uma só... quem pensou nisso não sabia se ia funcionar, somente que podia-se....as vezes a gente dá chances para coisas que pensamos que podem funcionar ao invés de sabê-las... no fundo a gente não sabe de nada, sempre.

fernsehgebühren - do alemão, taxa de televisão.