sábado, 30 de outubro de 2010

10 mil camadas antes de você.

Dida s c á l i a. De lascar. Podia ser o nome da mulher da minha vida se não fosse o meu nome de mulher nessa vida. Essa fantasia ululante, esse reino indomado, era uma das paixões de Aristóteles, um homem que eu não precisava ter conhecido.



Porque eu não conheço ninguém, observem a dupla negação, que não tenha se rendido às neuroses e psicoses da vida depois de ter tido o dedo sujo de totinho "in your face".
Foi ele quem digamos, traduziu a pureza de um texto, ao dizer que recursos demais no teatro, didascália, atrapalham o real sentido da trama, o poder do escrito, do contar.

Será? e será que não passamos a vida enfeitando os ladrilhos amarelos para não ter que enxergar a concretude da pedra no caminho? ...nossa mortalidade.

Eu já era um pouco neurótica, agora que Aristóteles passou a ditar a minha vida, que mostrou uma verdade de mais de mil anos em apenas uma tarde de fichamento, não precisamos mais de proteção um contra o outro. Nosso relacionamente cresceu totes... e as camisinhas que me impediam de estar totalmente contaminada pelos enfeites da vida, se lascaram.


When you can't look after what you can't own
You scream and shout all day long

New Order - All day long.

domingo, 3 de outubro de 2010

O absurdo do nada.



Jamais confiaria em uma pessoa realista. O realismo, literário ou filosófico, vem de um sentimento profundo de auto-esquecimento, do self-perdão. Sabemos o que sentimos, sempre. E sendo realistas, transferimos ao "jeito que as coisas são", a responsabilidade de nossa enojante natureza humana.

Talvez a maior das realistas, trágica coitada, foi Pollyanna, de H. Porter. Seus rodopios em sapatilha de ponta ainda fazem muito estrago na prateleira do conformismo. Nem tudo que passa por nós deve ser enfeitado, não somos máquinas programadas à eterna felicidade.

Jamais confiaria em Philip Seymor Hoffman, porque alguém que pode fingir o absoluto tudo, provavelmente pode nos fazer felizes sempre, e lá no topo, na virilha da última nuvem, nos carregar para o inferno, sorrindo.

Ás vezes devemos buscar o sofrimento, justamente por estarmos insatisfeitos com o que nos mostra a realidade. Não podemos ser escravos do que nos acontece, como se a realidade fosse esse ente maior e onipotente, se assim fosse não precisaríamos ter inventado deus, o pobre poderia continuar dormindo.

Desejar pelo impossível, o tudo, do que construir sob o nada.

Há um ritual etíope que celebra uma deusa que se lança ao inferno para tentar conciliar Deus e o Diabo. No dia de sua homenagem, os etíopes atravessam um determinado rio em barcos de palafitas ou pontes que balançam, e não poderia ser diferente pois devem sentir a dureza de tamanha tarefa. É uma das imagens mais lindas que meu hipocampo criou até hoje, conciliar com o Diabo, pois ninguém é tão ruim... repreender deus, pois olvidou-se da própria misericórdia.


Lançar-se ao inferno para conseguir o sonho é o único caminho?


Provavelmente. Certeza a gente nunca tem, pois o que parece real, poderia ser sonho, e vice-versa.

domingo, 26 de setembro de 2010

A semente do mal.


Talvez eu devesse ter tido um álbum do Black Sabbath quando era adolescente. Talvez eu devesse usar o tempo verbal corretamente, mas como máquinas do tempo são coisa altamente subjetivas, continuarei a dever pela eternidade por não ter conhecido, soprado ou sentido o metal antes dos vinte.

Sempre tive uma relação íntima com trompetes, aliás, penso que nas minhas fadigadas assístoles sopra um pequeno trompete cor de rosa entre as ártérias apaixonadas de meu coração.

Mas guitarras eram seres meio estranhos para mim, acreditei por muito tempo que guitarras e meninos deviam ser evitados, o que minha mãe ia pensar de uma filha metaleira?

Hoje em dia, minha cuidadosa mãe vive a prometer que dará a chave de casa ao padeiro, pois de acordo com ela estou prorrogando demais a Copa da Maternidade Obrigatória...mas guitarras, jamais as evitei novamente, pelo contrário, meus dedos sedentos tentam imitar inultimente qualquer dedilhar mais aguçado, qualquer desses murmuros de perfeição.

Dá uma certa tristeza conhecer algo tão bom que poderia ter mudado sua vida num momento em que portas não parecem ter fechaduras. Há quem diga que o Metal, rimando, é a semente do mal...tenho certeza de que são sementes, mas de árvores frondosas e falantes, que nos ensinam que portas não precisam de chaves quando sabemos o que realmente procuramos.

We shared the years, we shared each day
In love together, we found a way

But soon the world, had its evil way
My heart was blinded, love went astray

pick your seed:


anathema.katatonia.orphaned land.opeth.swalow the sun.mortiis.paradise lost.dimmu borgir. judas priest.ac/dc.amorphis.tool.forgotten sunrise.apocalyptica.blacksabbath.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

fazendo com um homem.




Já ia eu pensando que se tratava de mais uma terça-feira, uma terça qualquer, um terço desse ano chato que já está acabando. Mas com um coelho bem curioso fui fuçando minhas músicas já que estou cansada de meu mp3. Podia ser uma dia qualquer, desses em que eu penso que mulheres são a coisa mais especial desse planeta, mas nessa terça em particular, extraordinária, desejei ser um homem pela quarta ou quinta vez em minha vida.

A primeira vez que eu desejei ser homem estava com uns oito anos e queria espancar um menino chamado Luis Mário, pois ele acabara de ver minha calcinha branca. Demorou alguns anos para esse eclipse acontecer de novo...hehe

A segunda, com treze anos, meu amigo, companheiro, com quem eu jogava bafinha, basquete, pique pega e handball me chamou de shortie pela primeira vez. Sempre soube que era baixinha, mas aquilo de ele jogar na minha cara tinha a ver com o fato de que o estirão do rapaz havia chegado e logo eu ia perder meu melhor amigo para alguma patricinha.

Hoje eu podia ser um homem só por uns 60 minutos. Sessenta minutos ouvindo a mesma música, 6 tempos de 10 minutos descobrindo como conquistar uma mulher.

Não precisa muito para descobrir o que deseja a alma feminina. Se você leitor ainda não entendeu que estamos falando de luxúria, que é, porquê não, um ato violento de querer agora o que devia levar algum tempo, estou deixando às claras que a luxúria faz parte da alma feminina em um ponto específico de seu corpo...no sentimento do belo, num olhar diferente, num ato de bondade.

Nessa terça-feira chata, ao som de Black keys, reencontrei a minha.

Esse poder do som que desperta, esse vôo solitário da melodia, o choro na voz...por isso se eu fosse homem hoje, só hoje, por sessenta minutos I would for sure get in someone else pants...

Quanto a você leitor, não precisa ficar aí desejando ser homem, conquistar uma mulher leva muitas terças-feiras... em sessenta minutos é para machos, coisa que só eu e Chuck Norris entendemos.



"Baby, don´t you understand
what you are doing to the man?"

Black Keys - Never gonna give you up.

domingo, 19 de setembro de 2010

Regras para a direção de ninguém.



Lobo Mau comeu a chapéuzinho. Capitão Gancho e o Crocodilo definitivamente tinham algum affair, mas não se pode definir quem comia quem. O Duende Verde massacrou o pobre Pinóquio pois depois de Willem Defoe ele jamais voltará a ser um mero desenho, ganhou vida eterna, ha ha ha.

Mas o maior vilão da história, o exterminador absoluto, coincidentemente tinha bigodinho e o nome feminino torna super informativa a incoerência de René Déscartes.

Crianças não deviam temer a cuca, nem mesmo o homem do saco, ou então serra abraçando seu anel, deviam temer o homem que matou toda a fantasia.

Analisar, Enumerar e Sintetizar, a simetria espelhológica do método cartesiano é com certeza a causa de uma infinidade de doenças, talvez da maior delas, a total privação do delírio.

Precisamos do sonho. Precisamos de lógicas que não funcionem, e coisas dando errado, quando deviam estar certas. Aquele restinho de dinheiro no seu cheque especial devia durar o dobro, a moça peituda do caixa devia gostar de você sem o seu corsa sedã, e com estudos mínimos você podia terminar os créditos de seu mestrado.

A res extensa não pode vencer. E em tempos de recessão estadunidense estão a mudar os moçinhos, colocando-os prostitutos ou traficantes, sinal de que o sonho pode pintar de dourado até o mais absurdo barro.

Que eu saiba meu espírito não tem freio, e se pudesse ser dirigido, somente Hans Solo teria acesso ao volante, esse sim totalmente insano, pulou na carbonita, e continuou conversando com macacos, hábito do qual jamais deveríamos ter nos afastado.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Para nunca mais olhar para trás.



Há na vida uma pequena janela verde chamada cinismo. Poderíamos chamá-la de hipocrisia, mas se pecamos pela inércia, e não por nossas ações, nomeado está este buraco negro, infinito.

A janela é isso de estarmos eternamente fingindo não ver aquilo que se põe a nossa frente, ignorar algo que lá no fundo da mente é tão concreto quanto uma Estação do Cabo Branco.

Você pode escolher não ver as cores, mas elas permanecerão lá sempre brilhando?

Um dia toda a luz se apaga, e chegada essa hora, essa janela verde se fecha, e infelizmente não podemos mais ver o fauno, nem mesmo o unicórnio, ou quem sabe a redoma de vidro com a rosa dentro. Um dia nos é ceifado a opção de sermos cínicos, pois os momentos passam e as cores desbotam, restando apenas o embotamento de nosso próprio moralismo.

Quando o vazio se prostra não se pode mais fingir que outra coisa lá está, ele se coloca absoluto e pungente, como Fidel ou Nixon, como um quadro barato de arte repetida, de longe até parece amarelo e azul, mas de momentos em momentos, no frente a frente, só se enxerga o cinza.

"Y el mar,
espejo de mi corazon
las veces que me ha visto llorar
la perfidia de tu amor."

http://www.youtube.com/watch?v=mClQUyoBmhs

sábado, 4 de setembro de 2010

quebre o Vaso.




Jamais montei num elefante. Além de já ter sido chamada de um, nem mesmo de "uma"(pois flexionar gênero é artigo fino de importação), também já sonhei que me casava com Ganesha, rapaz muito sexy devo dizer.

Sempre gostei de corpos grandes e sempre detestei ditaduras
. Sei que em 30 de outubro você vai depositar seu voto na urna. Mas se fôssemos entrar num debate real e necessário sobre sua escolha será que poderìamos afastar a ideia de que você, assim como eu, está sendo manipulado?

Pode parecer que vivemos democraticamente, só parece.

Milhões de ideias estão sendo completamente inseridas em nosso imaginário, como numa eterna sessão de raio x. O resultado é esse câncer intelectual que desenvolve-se por aceitar cativo algo que deveria ser contestado. Há uma ditadura subliminar.

E nessa ditadura, até mesmo num Baile Zouk, onde se celebra através de movimentos a feminilidade tribal de qualquer mulher, as moças entendem que devem expor seus corpos minorizados limitados que se colocam como meros vetores de um prazer que não é delas.

Hay un espectro del diablo. Mulheres enlouquecidas pelo próprio espelho, pelo único argumento de toda uma vida, a vaidade.

É complicado se fazer ouvir numa sociedade inteira de felizes seguidores. Antigamente, para àqueles que se lançam ao protesto, os seguidores chamava-se gado, pensando bem, vacas mastigam muito bem o que comem, antes ruminar do que simplesmente engolir, e seus corpos largos, são corpos lindos, capim que alimenta e nos faz sorrir, que ainda não é proibido.



"...uma goteira contínua consegue perfurar a mais compacta pedra " O Processo. B.e Seletores de Frequência.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Memorial das Coisas que nunca foram.




James Bond nunca foi negro, M. Thatcher nunca foi pobre, também nunca foi gente, por isso saber o que ela é ou foi não faz muita diferença. Hemingway nunca foi septagenário, e Sartre coitado, esse nunca foi perfeito, mas alguém tinha que dizer o que ele disse.

Meus pais nunca foram ricos, graças a Deus, que também nunca foi visto, pelo menos por estes olhos que ainda não foram devidamente abertos.

Meu cachorro nunca viu um gato, e tenho pena dele porque o coitado vive um mito da caverna, confinado nessa existência meramente doméstica, não tem nenhuma noção a priori do que seria um felino, apesar de sonhar frequentemente que está caçando coelhos.

Hoje eu não me casei. Estava ali anotado na minha agenda, e se depois de Platão toda escrita tem valor de Lei pode ser que a multa esteja sendo encaminhada neste momento.

Algumas coisas deviam ter sido, James Bond como Morgan Freeman teria sido perfeito, e se tivessem matado Srta Tatcher nos slams de Glasgow, talvez as crianças de lá teriam mais chance de vida digna e uma bola de futebol bem diferente.

Outras coisas simplesmente acontecem, a gente se vê sem sono em plena madrugada, tentando forçar o entendimento de que não se alcança com mãos de criança arranha céu e carrossel de fogo, e se algo está tão longe assim de acontecer “é melhor não resistir e se entregar.”


Canta Lulu: http://www.youtube.com/watch?v=QWzj1w2Tv5M

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

e no escuro sem olhos.

Nem tudo que você tem eu quero. Nem tudo que você quer eu também gostaria de ter. E será que ultimamente as pessoas sabem o que querem?

Ou será que só sabem querer ter?


É complicado não querer coisas, às vezes a gente quer algo que está muito longe, algo que ainda não existe, algo que precisa ser inventado, ou as vezes a gente quer algo que sempre quis, e isso implica "na certeza de que nada mais terá o mesmo sabor"_1.



E o sabor da vida já não está no biscoito de polvilho da sua avó, nem mesmo na música romântica da rádio flash-back no caminho de volta, nem mesmo na expectativa de trazer pizza para casa numa boa sexta-feira.

O engolir é o mais importante, saborear é coisa de apenas um segundo, e segundos são pequenos demais para serem notados especialmente quando se não se olha pra baixo, quando não se quer ver quem varre seu chão, quem recolhe seu lixo, quem tolera o odor de sua torta humanidade.

Há espaço para não ter, não temos nada, hoje e sempre. Há tempo de olhar para cima, estar em baixo tem essa grande harmonia, já superou-se a queda, vê-se sempre o sol e as estrelas, hilariamentes pequenas para uma sociedade que só pensa em brilhar sozinha.

1 - Lisboya Kuya - Sara Tavares.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

o primeiro momento de Inércia.




Vou me casar com Marcelo Gleiser.
Pensei isso quando li pela primeira vez o caderno de Física do rapaz em 1997, mais ou menos... tinha 13 anos porque acabo de completar 26. haha.
Estava eu, na época, enrolada entre delírios aritméticos, geométricos e esportivos...e a Física, ensinada não com giz, mas com o gesso da incompetência, parecia realmente algo trazido de outros planetas.

Vi uma luz no fim do túnel naquele dia do meu noivado. A escrita fluente, as metafóras nem sempre tecnicamente adequadas, mas totalmente sublimes, colocadas mesmo como açucar em panela de fazer algodão doce...alguns giros e que surpresa doce!

Seria o meu chamado? Equações poderiam ser música naquela surdez infinita?

Não foram. outro caminhos, outros sentimentos, outras revelações...e apenas alguns séculos depois, nessa minha vida de árvore, compreendi que assim como em braille, eu "via" a Física naquele artigo através das palavras, sem telescópios e tubos de raios catódicos, a ferramenta dessa nova existência seriam também partículas, imateriais, e nem um pouco menos brilhantes.

Acho que se mede o contentamento da vida através do silêncio, ele é o último argumento, e quando os espaços estão todos preenchidos, o que parece Inércia pode ser apenas o segundo anterior da formação de um grande universo.

Eesferas maçicas não têm onde se apoiar, movimento sempre.

sábado, 24 de julho de 2010

Manual para usar anáguas.




Olha, pra falar a verdade estou com um pouco de sono agora, mas vc leitor não tem nada a ver com isso. Aliás verdade mesmo é que se você, leitor, estiver sendo atormentado por uma insônia baladeira, justo nesta noite de sábado, leia este post e com certeza antes do último ponto você perceberá que perdeu dois minutos preciosos de sua vida quando poderia estar dormindo.

Risadas? not so much? Verdade também é que nunca, em toda a minha vida, usei anáguas e tenho uma tia que insiste em dizer que uma mulher que não sabe usar anáguas jamais será uma dama, e uma mulher que não se comporte como uma dama jamais atrairá a atenção de um homem por mais de 10 minutos..mal sabe ela que esses dez minutos...aiaiaia...

Bom..fato é que anáguas realmente foram feitas para serem usadas por mulheres, mulheres que gostam de homens, mulheres que sabem se portar junto à companhia desses homens. Eu não sei nada disso. Na maioria dos dias gosto de homens, em outros dias simplesme os odeio, e estou sempre pensando que o sujeito quinquenário vai calçar as botas de hiking e vencer a são silvestre.

Estranho sentimento este de ter "de se comportar" perto de um homem, é como conversar sobre a chuva e o calor durante o exame de papanicolau, somente uma outra grande mulher nesse mundo me entenderia...Mrs. Lee, me desculpando o insulto de chamar-lhe fêmea:



"- Minha irmã eu faço o melhor que posso! - ele explodiu. Tia Alexandra encarava a questão do meu vestuário com um verdadeiro fanatismo. Eu nunca chegaria a ser uma dama se usasse roupas de menino, e quando argumentei que não conseguia fazer nada de vestido, ela replicou que eu não deveria fazer coisas que exigissem o uso de calças compridas. Na sua concepção, eu deveria estar brincando com fogõeszinhos de mentira e xicrinhas de procelana e usando o colarzinho de pérolas que ela me dera quando eu nasci; além disso, eu devia ser um raio de sol na vida solitária de meu pai.

Arrisquei que o uso de calças não impedia ninguém de ser um raio de sol,

mas titia retorquiu que eu precisava me comportar como tal, que eu nascera uma boa menina, mas que a cada ano estava ficando pior. Ela feriu meus sentimentos e me deixou um gosto amargo na boa, mas, quando levei o assunto a Atticus, ele disse que já havia um número suficientemente grande de raios de sol na família e que eu podia continuar como era que ele não se importava."

To kill a Mockinbird - Lee, Harper pg.111 - ed. josé olympio

Sim beth, também acho que anáguas realmente podem atrapalhar muito uma relação mais íntima com o próprio escroto.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Com que ilusões?


C o nc lus ion.

Diga de novo se não entendeu. Conclusion, sim estou nesta sexta-feira chorosa pensando nessas bailarininhas gordas dançando em minha mente. Porque vivemos com tantas delas? Não é fácil encontrá-las, perguntar aos outros nem sempre ajuda, fato é que tirar as próprias parece, só parece, mais apropriado.

E se rodopios tornassem-se dinheiro minha mente seria um máquina de cassino.

Pra tentar esquecer do zunido que fazem, essas conclusões inquietas, especialmente quando se põem de ponta em suas sapatilhas, estou eu aqui assistindo Hung, extasiada...sim, porque não...alguém tem de usar essa palavra um dia...hehe extasiada porque alguns episódios da série não tem final, cenas se intercalam, impactos como pés de sapateado... e vêm os créditos, malditos, para que o lago do cisnes comece.

Falar pouco, assim como concluir, não requer muito esforço, falar pouco é sinal de maturidade, conclusão é sinal de sepultamento, quase sempre em silêncio... as vezes os finais acontecem, e a gente simplesmente se pega parado no tempo esperando os créditos que nunca virão, um dia entenderemos que nós mesmos é que devemos escrevê-los.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

inspira ação.


Chega um dia na vida de todo escritor que não se tem outro assunto senão escrever sobre ela. Rainha das fadas, a mãe foice, insônia perpétua.
Se a temos, a fortuna sempre nos acompanhará, se a perdemos, estamos há um palmo dos sete, seis exatos, mortos que somos... escritores sem palavras são como estrelas que não brilham, podem até ter alguma função, mas estão longe demais para vermos sua luz.

E quão egoístas somos nós, escritores, para pensar que essa musa somente ao nosso chambre se dirige?

Vai lá eu saber...e lá se foi a graça das primeiras palavras deste post. Me vejo hoje pensando e refletindo sobre a grande inspiração de outra pessoa, de escrever uma série inteira sobre somente o sexo, é a série Hung, da HBO...se engane quem quiser que sexo, seja somente sexo, basta ver as aventuras de Ray e outro "s" nos aparece...

E como sentir inspiração?

Eu realmente não sei, e você leitor já percebeu pelo menos que ela não está entre nós essa noite, a julgar pela qualidade do que está em sua frente...dá pra ver o barquinho balançando?

Estar inspirado é uma das poucas coisas na vida que nos contradizem totalmente. Nós seres humanos, exceto escritores, que não nascem mamíferos, e sim moluscos deste imenso oceano, não podemos escolher estar inspirados. Mesmo que estejamos obrigados a escolher outros caminhos, ou nenhum escolher, como diria my buddy jean paul, uma inércia divina se coloca entre os homens: Inspiração não se persegue, se ousarmos fecundá-la ela retorna... se nos escondermos, como seremos encontrados?

domingo, 11 de julho de 2010

música para pensar em você.



Meus pais estão, atualmente, na crise da meia idade, na síndrome do ninho "quase" vazio. Os filhos crescidos, apesar de em casa, cada um por si na terra de murici...nem tanto. Fato é que não se encontram na fase mais romântica de suas vidas.

Em todo caso, já que parece que falarei de música, em meus tempos de carona com eles, notei e guardei algo bem interessante: uma inércia romântica quando eles ouvem, lá de vez em quando, a música Stand By Me, de Ben E. King.

"Fique comigo. Querida, fique comigo."

É engraçado como essa parte da música se encaixa no histórico iô-iô destes dois teimosos, e de como ambos, sem saber um do outro, "param" para pensar, espero eu, um no outro, quando ouvem essa música, trilha sonora de um árvore grande, a família que criaram.

E você leitor? Nessa noite de domingo, está pensando em quem? Aliás, melhor, está ouvindo a quem?

Acabo de assistir Twilight, e se a tecnologia, assim como a medicina, não fossem tão limitadas, você poderia sentir neste momento o cheiro da minha língua queimada...você poderia viver para sempre.

Esta eternidade é o tema do filme, o fundo vampiresco, todavia, passou batido por mim. Tudo que fiquei pensando durante o filme é na real sede de Edword, ou seja, de estar junto de sua amada, de protegê-la e cuida-la, ela não precisa dizer Stand by me.

Não vou ser mais romântica do que isso...não precisa sacar da insulina, afinal, pensei neste post justamente porque cheguei numa fase boa da vida onde já posso ouvir uma música para pensar em mim mesma...haha, o anti-romance está agora entre nós...

Sim leitor, tem dias feitos pra pensar em você mesmo, em como a gente acha forças para sobreviver barras jamais pensadas, e surpreendentemente, não morre por isso. O impensável tem isso de sobrenatural, coisas acontecem, vampiros vão e vem, quem fica conosco pela eternidade? A música de nossos dias, a música de nossas próprias vidas.



Whttp://www.youtube.com/watch?v=kl_Gp2qZJvM&feature=related

sexta-feira, 9 de julho de 2010

nome de mulher.



Comecei a pensar nesse post pensando que ia falar sobre Clarice Lispector, de como foi sua vida, de como sua mãe a teve pensando em curar-se de uma doença, e de que como ela sempre carregou consigo o estigma de ter falhado nessa sua missão uterina.

Mas entre falar e escrever existem alguns ladrilhos.

E eu achei que Clarice apreciaria mais que eu contasse que dia 12 de julho está chegando. É lógico que não contarei do que se trata o dia 12 de julho, mistery girl, yeah yeah yeahs. Mas nesse dia, talvez como no dia em que Clarice nasceu entendi pela primeira vez a força de um nome feminino, de nome de mulher na própria boca, universos que sopram em milhares de supernovas. Sou capaz de apostar que D. Mánia me entenderia, um parto é um parto, e semanas são apenas nossas ilusões de permanência.
Minha mãe jamais pronunciou meu nome do mesmo jeito, o desatar de sua vida acabou-se naquele dia 20, o meu no último dia 12.07.

E nessa volta toda me pergunto Clarice, como não pensar em você?

Salvamentos podem ser subjetivos, assim como mães, com certeza... talvez todos nos já o sejamos, e o nome de nossas crias é só o que falta para finalmente resgatarmo-nos.





fancy portuguese, cheap tecnique.

sábado, 3 de julho de 2010

como um pássaro vermelho.



Olhe ao seu redor. Depressa. São quase meia noite e não quero que vc ache um fantasma.

Olhe, concentre-se...não vai passar voando nenhuma mancha vermelha, nenhum borrão escarlate, são quase meia noite e pássaros dormem cedo afinal. Não deviam dormir cedo, nunca, nossos amigos. Não sei porque nossos, porque entre eu e você leitor tem um universo de tecnologia.

A coisa é que pássaros vermelhos são muito raros na natureza, não são comuns, nem mesmo peculiares, são pequenos eventos, frágeis, mesmo que o vermelho de suas penas transmita alguma força, são pequenos corpinhos vulneráveis. Um pouquinho de Darwin, ou Dawkins e você pode compreender que para mirar, acertar e ceifar um passarinho vermelho é bem mais fácil que encontrar um pardal encardido em meio as vigas de madeira de uma varanda qualquer.

Achar um amigo verdadeiro, nem precisava ser vermelho, ou roxo, é coisa mais difícil ainda. Mestres no pseudo, a maioria das pessoas em nossa volta não podem ser consideradas amigas, pelo menos é o que eu penso, e eu tenho esse hábito de achar que posso pensar o que quiser, qualquer dia me estrepo.Tomara.

Mas então porque a natureza continua a produzir pássaros vermelhos, porque continuamos a procurar amigos? Vai saber...se há algum senso de mistério na vida, ele tem latitude e longitude.

Sempre achei um mistério crianças, crianças e amigos imaginários, crianças e o Barney...hehe, não há mistério algum, ser criança tem isso de bom, alguém pra dividir o lanche no recreio, alguém pra segurar sua mão através dos infernos vermelhos...esses sim cotidianos... mesmo que seja mais de meia noite.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

em coisa de mês.



Eu nunca tentei um dia sem. Sim. Um dia sem, coisa nova de movimentos, que se movimentam em torno de uma inércia, ou seja, não fazer algo hoje. Entre o no meat day, e no globo day, e também o vale-night, fico pensando se há espaço para termos um passe livre, uma carta branca, um black day.

Não há. Estamos sendo treinados para viver nas linhas de huxley, para pular nas imanências de Asimov.

Mas e porque não podemos tirar um dia para jogar carimbada? ou tomar sorvete no centro...ir trabalhar com a sua mãe, ou simplesmente ficar o dia todo em casa...seríamos irresponsáveis se assim o fizéssemos? e desde quando responsabilidade virou isso de ser infalível, isso de ser Liderança?

Você leitor assíduo presumiria que eu fosse dizer que não sei, mas estranhamente, hoje, I do.

Não vale a pena dizer quando começamos a viver em 100%, full capacity, ou em ISO9002, mas o que se pode esperar de um mundo sem Saramago?

Não muita coisa, em algum universo paralelo dormir virou sinônimo de descansar, sonhar, só para poucos, aqueles acordados.

"De fato, os desdobramentos contemporâneos desses conceitos foucaultianos merecem ser explorados, pois nas pesquisas genéticas e biotecnológicas é possível localizar toda uma gama de ferramentas destinadas à sujeição da vida..." sobre Biopolítica Paula Sibilia, o Homem Pós-Orgânico.

sábado, 29 de maio de 2010

O Incrível Vestuário das Palavras.



Vida é repetição. Não tem mistério, coloque um vinil do creedence na vitrola do seu avô, mesmo que você não tenha um, e assista. Life is repetition. Escritores também, querido leitor, são seres cíclicos, que podiam muito bem morar dentro de um raio de uma bicicleta interestelar.
Falamos sobre coisas, coisas que falam muito sobre nós.
E para estarmos despidos diantes de todos, usamos estas imensuráveis partículas de som, pequenas oscilações de onda, palavras. Palavras, no entanto, não se repetem. Mentalize: repete, repete, repete, repete... são quatro irmãs, nenhuma repetindo o mesmo marido. Por isso, dessas pequenas podemos nos utilizar de diversas entonações, de outras caras que não as nossas, de outros ouvidos, alheios aos nossos gritos. Cada palavra para cada ocasião, elas nos vestem de outros sentidos, limitados que somos morando em eternas bolachinhas pretas.

Explica-se aí, inultimente, porque estes escritores eróticos, pelados pelas madrugadas, vestem o que querem dizer obedecendo à uma etiqueta sem misericórdia, algumas palavras são feitas para gritar, outros para a fala eloquente, outras para o susurro cálido.
Cada voz, uma saliva, outro elemento importante em nosso clube de stripper.

Já falei do filme The Notebook umas cem vezes, repetition, repetition...mas quando Allie gritou para Noah: Why didn´t you write me? Why? mataram-se aí todos os susurros, tímpanos sangram, corações se dilaceram.

Quisera eu que se tratassem de sussurros, esses sim merecem ser repetidos, em palavras pequenas e lentas, carameladas até entre beijos não dados.

Susurros leitor, são roupa de baixo, não cobrem nada, nem a vergonha da gente, nem o suspiro que sempre os seguem.

Esperando o quarto de pintar, sempre.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

955.38




Tem um recado escrito na parede do banheiro da pedagogia. Está lá, escrito, em três pequenas frases, em pouca simetria, acima da linha que divide os ladrilhos, azulejos trópicos, areias inertes.
Está lá um recado insano, de alguém carente que escreveu na parede do banheiro à procura de um outro alguém. Meio vulgar, meio mensagem. Isso contudo não é importante. Importante é como pude ler esse recado escrito na parede do banheiro da Pedagogia. Eu não devia estar lá, não poderia estar lá, na verdade, imensa mesmo em azul, eu jamais estive lá. Estar em frente ao recado escrito na parede do banheiro da Pedagogia era o mesmo que estar em qualquer outro lugar, ou nos lugares em que eu deveria.
Depois daquele banheiro senti o que poderia ou deveria ter sentido no dia em que nasci, o pensar curioso, o desespero discreto de não se saber o onde, ou porquê e nem o que era tempo. Há algum tempo subi na casa da árvore, mas pagar-se-á o preço, infância é outro interdito, visitamos uma vez, sem querer, jamais voltaremos.

sábado, 8 de maio de 2010

será que Ozzy era grande?




Tudo bem. Tá bom. Tamanho não é documento. Não é para mim. Mas porque eu insisto em escrever esses textos longos em que nenhum coesão pode garantir a você (e)leitor que vai compreender what d´hell I am talking about?

O negócio é que eu gosto de escrever, e falar, e falar e escrever, um pouquinho de metalinguagem para começar o final de semana, e sempre que venho me deitar aqui diante do céu estrelado do meu terraço, gravado em minha mente como insulto em porta de prédio, bom fico eu pensando numa agenda, num tópico, mensagem...receita de bolo nem sempre é garantia de satisfação.

E se eu não quiser escrever sobre nada? Um título insidioso, e algumas palavras tortas para você ler essa última vírgula aqui ,

Tamanho sem conteúdo não é nada, e tenho sorte de achar as duas coisas combinadas, sempre. E o ozzy nessa parada? Bom, Ozzy é um gigante, com letras, sem letras, sua sombra podia matar algumas florestas, mas mesmo sem dizer muita coisa, em algumas de suas composições de poucos versos, aquelas notas enchem um pequeno ford ka, enchem um imaginário sem limites.

ta aí. sucinto e eficiente? será? a responsabilidade de julgar, esse elefante, ainda bem, não é minha.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O pequeno Einstein.


Einstein não foi um homem pequeno. Pode até que tenha sido um pequeno homem, de alguns 160 centímetros, mas sua trajetória, de looser à sombra gigante, o tornou um homem grande, maior até mesmo do que ele gostaria de ter sido.
Eu também não sou grande. Não sou pequena já que o manequim 50 fala por si e talvez por causa desse manequim universo, sempre em expansão, é que tentei imitar mr. big em um pequeno experimento.
Não é segredo que parte de minhas moléculas precisam de um colóide específico para se manterem estáveis, e para quem pensa que a explosão nuclear ocasionada por este colapso é pequena, basta juntar a testa franzida e as respostas atravessadas de uma semana sem açúcar.
Eu gosto de brigadeiro. Gosto mesmo. Assumo isso como irmão que foge com a cunhada, como político que enche a cueca, como religioso que não lê a bíblia: é errado, imoral e engorda. Assim, tentei um experimento banal... fazer a criança no microondas.
Não preciso dizer muita coisa sobre o processo, porque já passa das onze, e a relevância do assunto é incontestável, mas o que eu queria dizer, como num romance de Tolstói onde o cavalo protagonista narra que "ensinou a si mesmo", é que eu utilizei a Física, apliquei-a, junto à Química, depois de mais de 10 anos de haver terminado o Colegial.
Descobri que o leite precisa de espaço para não derramar, e o que o vasilhame utilizado tem de conter duas ou três vezes o volume inicial do leite, aumentado pela agitação das partículas...olha a matemática se intrometendo também...quem diria.
No saldo, foram algumas 10 tentativas, 3 vasilhas e muita sujeira, mas consegui ensinar a mim mesma um método novo e inédito, pelo menos para mim, de fazer leite com toddy virar brigadeiro.
Não sei Einstein se sentiu assim como eu, mas provar um teorema, um metódo, um way of life, ou seja, aprender uma coisa nova todo dia é muito mais gostoso do que engolir abaixo outras coisas prontas. Aprender tem tudo a ver com brigadeiro, melhor ainda, não engorda.

sábado, 17 de abril de 2010

Autoapresentação

Texto produzido na primeira aula do curso de Letras. 2010. Disciplina: Estudos do Texto.

Nasci em uma quarta-feira de cinzas. Era de se esperar que a euforia do Carnaval, o calor das pessoas, os batuques e barulhos pudessem atrair-me à folia. Total engano. Já na creche do trabalho de minha mãe as cuidadoras davam conta de uma calma meio isolada, e de que meus pais poderiam produzir mais algumas três “Olívias”, tamanho era o deleite de minha silente companhia.

Seguiram-se os anos. Lá por meados de 1987, passado grande trauma pessoa vivido por mim por ocasião da morte de Tancredo Neves, eis que meus pais são chamados na escola, não devido ao boletim impecável, mas, sim, pelas “más” companhias estabelecidas no primeiro semestre escolar na primeira série primária. A melhor amiga, companheira de lanche no opressivo colégio particular era a faxineira da escola, de setenta anos, único componente étnico similar naquele novo universo. Iniciava-se a terapia!

Freud, Jung e poucos amigos, mãe, e eu estabelecemos na adolescência um excelente contrato, no qual acordou-se que nas festas de escola, se cumprida frequência atpe às 22:00 horas, incentivos remuneratórios seriam liberados. Não sabia a genitora que me na bolsa, tipo mochila, cor de caramelo, havia sempre um livro para as três horas obrigatórias de comparecimento.

Não me considero arrogante, tampouco solitária, mas a timidez que me impede de sambar apesar do aniversário temático é traço difícil de superar, como muro de vizinho que tem mangueira frutada, rala dedos e joelhos e lá pela quinta tentativa produz resultado.

“Aos poucos ela se ajeita”, sustenta o pai conformado, mas a mãe que jamais desiste ainda pergunta resignada:

- E, então, filha, já conheceu todo mundo na primeira aula do curso de Letras?





Yes, Beth, it´s fun to be me, or you.