sábado, 30 de outubro de 2010

10 mil camadas antes de você.

Dida s c á l i a. De lascar. Podia ser o nome da mulher da minha vida se não fosse o meu nome de mulher nessa vida. Essa fantasia ululante, esse reino indomado, era uma das paixões de Aristóteles, um homem que eu não precisava ter conhecido.



Porque eu não conheço ninguém, observem a dupla negação, que não tenha se rendido às neuroses e psicoses da vida depois de ter tido o dedo sujo de totinho "in your face".
Foi ele quem digamos, traduziu a pureza de um texto, ao dizer que recursos demais no teatro, didascália, atrapalham o real sentido da trama, o poder do escrito, do contar.

Será? e será que não passamos a vida enfeitando os ladrilhos amarelos para não ter que enxergar a concretude da pedra no caminho? ...nossa mortalidade.

Eu já era um pouco neurótica, agora que Aristóteles passou a ditar a minha vida, que mostrou uma verdade de mais de mil anos em apenas uma tarde de fichamento, não precisamos mais de proteção um contra o outro. Nosso relacionamente cresceu totes... e as camisinhas que me impediam de estar totalmente contaminada pelos enfeites da vida, se lascaram.


When you can't look after what you can't own
You scream and shout all day long

New Order - All day long.

domingo, 3 de outubro de 2010

O absurdo do nada.



Jamais confiaria em uma pessoa realista. O realismo, literário ou filosófico, vem de um sentimento profundo de auto-esquecimento, do self-perdão. Sabemos o que sentimos, sempre. E sendo realistas, transferimos ao "jeito que as coisas são", a responsabilidade de nossa enojante natureza humana.

Talvez a maior das realistas, trágica coitada, foi Pollyanna, de H. Porter. Seus rodopios em sapatilha de ponta ainda fazem muito estrago na prateleira do conformismo. Nem tudo que passa por nós deve ser enfeitado, não somos máquinas programadas à eterna felicidade.

Jamais confiaria em Philip Seymor Hoffman, porque alguém que pode fingir o absoluto tudo, provavelmente pode nos fazer felizes sempre, e lá no topo, na virilha da última nuvem, nos carregar para o inferno, sorrindo.

Ás vezes devemos buscar o sofrimento, justamente por estarmos insatisfeitos com o que nos mostra a realidade. Não podemos ser escravos do que nos acontece, como se a realidade fosse esse ente maior e onipotente, se assim fosse não precisaríamos ter inventado deus, o pobre poderia continuar dormindo.

Desejar pelo impossível, o tudo, do que construir sob o nada.

Há um ritual etíope que celebra uma deusa que se lança ao inferno para tentar conciliar Deus e o Diabo. No dia de sua homenagem, os etíopes atravessam um determinado rio em barcos de palafitas ou pontes que balançam, e não poderia ser diferente pois devem sentir a dureza de tamanha tarefa. É uma das imagens mais lindas que meu hipocampo criou até hoje, conciliar com o Diabo, pois ninguém é tão ruim... repreender deus, pois olvidou-se da própria misericórdia.


Lançar-se ao inferno para conseguir o sonho é o único caminho?


Provavelmente. Certeza a gente nunca tem, pois o que parece real, poderia ser sonho, e vice-versa.