domingo, 3 de outubro de 2010

O absurdo do nada.



Jamais confiaria em uma pessoa realista. O realismo, literário ou filosófico, vem de um sentimento profundo de auto-esquecimento, do self-perdão. Sabemos o que sentimos, sempre. E sendo realistas, transferimos ao "jeito que as coisas são", a responsabilidade de nossa enojante natureza humana.

Talvez a maior das realistas, trágica coitada, foi Pollyanna, de H. Porter. Seus rodopios em sapatilha de ponta ainda fazem muito estrago na prateleira do conformismo. Nem tudo que passa por nós deve ser enfeitado, não somos máquinas programadas à eterna felicidade.

Jamais confiaria em Philip Seymor Hoffman, porque alguém que pode fingir o absoluto tudo, provavelmente pode nos fazer felizes sempre, e lá no topo, na virilha da última nuvem, nos carregar para o inferno, sorrindo.

Ás vezes devemos buscar o sofrimento, justamente por estarmos insatisfeitos com o que nos mostra a realidade. Não podemos ser escravos do que nos acontece, como se a realidade fosse esse ente maior e onipotente, se assim fosse não precisaríamos ter inventado deus, o pobre poderia continuar dormindo.

Desejar pelo impossível, o tudo, do que construir sob o nada.

Há um ritual etíope que celebra uma deusa que se lança ao inferno para tentar conciliar Deus e o Diabo. No dia de sua homenagem, os etíopes atravessam um determinado rio em barcos de palafitas ou pontes que balançam, e não poderia ser diferente pois devem sentir a dureza de tamanha tarefa. É uma das imagens mais lindas que meu hipocampo criou até hoje, conciliar com o Diabo, pois ninguém é tão ruim... repreender deus, pois olvidou-se da própria misericórdia.


Lançar-se ao inferno para conseguir o sonho é o único caminho?


Provavelmente. Certeza a gente nunca tem, pois o que parece real, poderia ser sonho, e vice-versa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário