domingo, 26 de setembro de 2010

A semente do mal.


Talvez eu devesse ter tido um álbum do Black Sabbath quando era adolescente. Talvez eu devesse usar o tempo verbal corretamente, mas como máquinas do tempo são coisa altamente subjetivas, continuarei a dever pela eternidade por não ter conhecido, soprado ou sentido o metal antes dos vinte.

Sempre tive uma relação íntima com trompetes, aliás, penso que nas minhas fadigadas assístoles sopra um pequeno trompete cor de rosa entre as ártérias apaixonadas de meu coração.

Mas guitarras eram seres meio estranhos para mim, acreditei por muito tempo que guitarras e meninos deviam ser evitados, o que minha mãe ia pensar de uma filha metaleira?

Hoje em dia, minha cuidadosa mãe vive a prometer que dará a chave de casa ao padeiro, pois de acordo com ela estou prorrogando demais a Copa da Maternidade Obrigatória...mas guitarras, jamais as evitei novamente, pelo contrário, meus dedos sedentos tentam imitar inultimente qualquer dedilhar mais aguçado, qualquer desses murmuros de perfeição.

Dá uma certa tristeza conhecer algo tão bom que poderia ter mudado sua vida num momento em que portas não parecem ter fechaduras. Há quem diga que o Metal, rimando, é a semente do mal...tenho certeza de que são sementes, mas de árvores frondosas e falantes, que nos ensinam que portas não precisam de chaves quando sabemos o que realmente procuramos.

We shared the years, we shared each day
In love together, we found a way

But soon the world, had its evil way
My heart was blinded, love went astray

pick your seed:


anathema.katatonia.orphaned land.opeth.swalow the sun.mortiis.paradise lost.dimmu borgir. judas priest.ac/dc.amorphis.tool.forgotten sunrise.apocalyptica.blacksabbath.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

fazendo com um homem.




Já ia eu pensando que se tratava de mais uma terça-feira, uma terça qualquer, um terço desse ano chato que já está acabando. Mas com um coelho bem curioso fui fuçando minhas músicas já que estou cansada de meu mp3. Podia ser uma dia qualquer, desses em que eu penso que mulheres são a coisa mais especial desse planeta, mas nessa terça em particular, extraordinária, desejei ser um homem pela quarta ou quinta vez em minha vida.

A primeira vez que eu desejei ser homem estava com uns oito anos e queria espancar um menino chamado Luis Mário, pois ele acabara de ver minha calcinha branca. Demorou alguns anos para esse eclipse acontecer de novo...hehe

A segunda, com treze anos, meu amigo, companheiro, com quem eu jogava bafinha, basquete, pique pega e handball me chamou de shortie pela primeira vez. Sempre soube que era baixinha, mas aquilo de ele jogar na minha cara tinha a ver com o fato de que o estirão do rapaz havia chegado e logo eu ia perder meu melhor amigo para alguma patricinha.

Hoje eu podia ser um homem só por uns 60 minutos. Sessenta minutos ouvindo a mesma música, 6 tempos de 10 minutos descobrindo como conquistar uma mulher.

Não precisa muito para descobrir o que deseja a alma feminina. Se você leitor ainda não entendeu que estamos falando de luxúria, que é, porquê não, um ato violento de querer agora o que devia levar algum tempo, estou deixando às claras que a luxúria faz parte da alma feminina em um ponto específico de seu corpo...no sentimento do belo, num olhar diferente, num ato de bondade.

Nessa terça-feira chata, ao som de Black keys, reencontrei a minha.

Esse poder do som que desperta, esse vôo solitário da melodia, o choro na voz...por isso se eu fosse homem hoje, só hoje, por sessenta minutos I would for sure get in someone else pants...

Quanto a você leitor, não precisa ficar aí desejando ser homem, conquistar uma mulher leva muitas terças-feiras... em sessenta minutos é para machos, coisa que só eu e Chuck Norris entendemos.



"Baby, don´t you understand
what you are doing to the man?"

Black Keys - Never gonna give you up.

domingo, 19 de setembro de 2010

Regras para a direção de ninguém.



Lobo Mau comeu a chapéuzinho. Capitão Gancho e o Crocodilo definitivamente tinham algum affair, mas não se pode definir quem comia quem. O Duende Verde massacrou o pobre Pinóquio pois depois de Willem Defoe ele jamais voltará a ser um mero desenho, ganhou vida eterna, ha ha ha.

Mas o maior vilão da história, o exterminador absoluto, coincidentemente tinha bigodinho e o nome feminino torna super informativa a incoerência de René Déscartes.

Crianças não deviam temer a cuca, nem mesmo o homem do saco, ou então serra abraçando seu anel, deviam temer o homem que matou toda a fantasia.

Analisar, Enumerar e Sintetizar, a simetria espelhológica do método cartesiano é com certeza a causa de uma infinidade de doenças, talvez da maior delas, a total privação do delírio.

Precisamos do sonho. Precisamos de lógicas que não funcionem, e coisas dando errado, quando deviam estar certas. Aquele restinho de dinheiro no seu cheque especial devia durar o dobro, a moça peituda do caixa devia gostar de você sem o seu corsa sedã, e com estudos mínimos você podia terminar os créditos de seu mestrado.

A res extensa não pode vencer. E em tempos de recessão estadunidense estão a mudar os moçinhos, colocando-os prostitutos ou traficantes, sinal de que o sonho pode pintar de dourado até o mais absurdo barro.

Que eu saiba meu espírito não tem freio, e se pudesse ser dirigido, somente Hans Solo teria acesso ao volante, esse sim totalmente insano, pulou na carbonita, e continuou conversando com macacos, hábito do qual jamais deveríamos ter nos afastado.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Para nunca mais olhar para trás.



Há na vida uma pequena janela verde chamada cinismo. Poderíamos chamá-la de hipocrisia, mas se pecamos pela inércia, e não por nossas ações, nomeado está este buraco negro, infinito.

A janela é isso de estarmos eternamente fingindo não ver aquilo que se põe a nossa frente, ignorar algo que lá no fundo da mente é tão concreto quanto uma Estação do Cabo Branco.

Você pode escolher não ver as cores, mas elas permanecerão lá sempre brilhando?

Um dia toda a luz se apaga, e chegada essa hora, essa janela verde se fecha, e infelizmente não podemos mais ver o fauno, nem mesmo o unicórnio, ou quem sabe a redoma de vidro com a rosa dentro. Um dia nos é ceifado a opção de sermos cínicos, pois os momentos passam e as cores desbotam, restando apenas o embotamento de nosso próprio moralismo.

Quando o vazio se prostra não se pode mais fingir que outra coisa lá está, ele se coloca absoluto e pungente, como Fidel ou Nixon, como um quadro barato de arte repetida, de longe até parece amarelo e azul, mas de momentos em momentos, no frente a frente, só se enxerga o cinza.

"Y el mar,
espejo de mi corazon
las veces que me ha visto llorar
la perfidia de tu amor."

http://www.youtube.com/watch?v=mClQUyoBmhs

sábado, 4 de setembro de 2010

quebre o Vaso.




Jamais montei num elefante. Além de já ter sido chamada de um, nem mesmo de "uma"(pois flexionar gênero é artigo fino de importação), também já sonhei que me casava com Ganesha, rapaz muito sexy devo dizer.

Sempre gostei de corpos grandes e sempre detestei ditaduras
. Sei que em 30 de outubro você vai depositar seu voto na urna. Mas se fôssemos entrar num debate real e necessário sobre sua escolha será que poderìamos afastar a ideia de que você, assim como eu, está sendo manipulado?

Pode parecer que vivemos democraticamente, só parece.

Milhões de ideias estão sendo completamente inseridas em nosso imaginário, como numa eterna sessão de raio x. O resultado é esse câncer intelectual que desenvolve-se por aceitar cativo algo que deveria ser contestado. Há uma ditadura subliminar.

E nessa ditadura, até mesmo num Baile Zouk, onde se celebra através de movimentos a feminilidade tribal de qualquer mulher, as moças entendem que devem expor seus corpos minorizados limitados que se colocam como meros vetores de um prazer que não é delas.

Hay un espectro del diablo. Mulheres enlouquecidas pelo próprio espelho, pelo único argumento de toda uma vida, a vaidade.

É complicado se fazer ouvir numa sociedade inteira de felizes seguidores. Antigamente, para àqueles que se lançam ao protesto, os seguidores chamava-se gado, pensando bem, vacas mastigam muito bem o que comem, antes ruminar do que simplesmente engolir, e seus corpos largos, são corpos lindos, capim que alimenta e nos faz sorrir, que ainda não é proibido.



"...uma goteira contínua consegue perfurar a mais compacta pedra " O Processo. B.e Seletores de Frequência.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Memorial das Coisas que nunca foram.




James Bond nunca foi negro, M. Thatcher nunca foi pobre, também nunca foi gente, por isso saber o que ela é ou foi não faz muita diferença. Hemingway nunca foi septagenário, e Sartre coitado, esse nunca foi perfeito, mas alguém tinha que dizer o que ele disse.

Meus pais nunca foram ricos, graças a Deus, que também nunca foi visto, pelo menos por estes olhos que ainda não foram devidamente abertos.

Meu cachorro nunca viu um gato, e tenho pena dele porque o coitado vive um mito da caverna, confinado nessa existência meramente doméstica, não tem nenhuma noção a priori do que seria um felino, apesar de sonhar frequentemente que está caçando coelhos.

Hoje eu não me casei. Estava ali anotado na minha agenda, e se depois de Platão toda escrita tem valor de Lei pode ser que a multa esteja sendo encaminhada neste momento.

Algumas coisas deviam ter sido, James Bond como Morgan Freeman teria sido perfeito, e se tivessem matado Srta Tatcher nos slams de Glasgow, talvez as crianças de lá teriam mais chance de vida digna e uma bola de futebol bem diferente.

Outras coisas simplesmente acontecem, a gente se vê sem sono em plena madrugada, tentando forçar o entendimento de que não se alcança com mãos de criança arranha céu e carrossel de fogo, e se algo está tão longe assim de acontecer “é melhor não resistir e se entregar.”


Canta Lulu: http://www.youtube.com/watch?v=QWzj1w2Tv5M

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

e no escuro sem olhos.

Nem tudo que você tem eu quero. Nem tudo que você quer eu também gostaria de ter. E será que ultimamente as pessoas sabem o que querem?

Ou será que só sabem querer ter?


É complicado não querer coisas, às vezes a gente quer algo que está muito longe, algo que ainda não existe, algo que precisa ser inventado, ou as vezes a gente quer algo que sempre quis, e isso implica "na certeza de que nada mais terá o mesmo sabor"_1.



E o sabor da vida já não está no biscoito de polvilho da sua avó, nem mesmo na música romântica da rádio flash-back no caminho de volta, nem mesmo na expectativa de trazer pizza para casa numa boa sexta-feira.

O engolir é o mais importante, saborear é coisa de apenas um segundo, e segundos são pequenos demais para serem notados especialmente quando se não se olha pra baixo, quando não se quer ver quem varre seu chão, quem recolhe seu lixo, quem tolera o odor de sua torta humanidade.

Há espaço para não ter, não temos nada, hoje e sempre. Há tempo de olhar para cima, estar em baixo tem essa grande harmonia, já superou-se a queda, vê-se sempre o sol e as estrelas, hilariamentes pequenas para uma sociedade que só pensa em brilhar sozinha.

1 - Lisboya Kuya - Sara Tavares.